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Ao Volante – Peugeot 208 1.2 e o Efeito Griezmann

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Surpreenda-se com o compacto franco-brasileiro e sua nova motorização

teste_peugeot_208_puretech_21Renato Passos (*)

Por alguns segundos, esqueçamo-nos do triste atentado recém-ocorrido na cidade francesa de Nice, com seus 84 falecidos e as duas centenas de feridos, além das inúmeras famílias afetadas das mais variadas formas. Viraremos nossas lentes para o dia 10 de julho de 2016 em outro ponto da França: em Saint-Denis, nomeadamente no Stade de France, ocorria a final do Campeonato Europeu de Futebol – nomeadamente, Eurocopa. Sim, a França não foi páreo para a peleja dos portugueses em busca de seu primeiro título. Mas nossa referência vem, justamente, do esquete gaulês.

teste_peugeot_208_puretech_16Quem acompanhou Euro não hesita em falar: o prêmio de melhor jogador da competição dado ao atacante francês Antoine Griezmann é de uma justiça indiscutível. Mas quem diria que, em meio a combinados nacionais com jogadores de fama e talento superlativos, o valente canhoto seria a grande estrela da competição? As atuações do futebolista deixaram muitos fãs do ludopédio extremamente surpresos com algo que, definitivamente, não esperavam.

teste_peugeot_208_puretech_4Corte rápido de cenas, voltemos para o Brasil. Pouco tempo após o término da Euro’16, outra obra francesa deu nó na cabeça de muitos que a conheceram. Mas, desta vez, não se trata de uma pessoa ou mesmo de um esporte. Na verdade, nem mesmo uma novidade por inteiro, daquela de fazer as pessoas se perguntarem “que diabos é aquilo?” nas ruas. Mas, dado o volume de elogios recebidos pelo Peugeot 208 – e conforme a nossa impressão, não hesitamos em cravar: que grata surpresa é a versão Allure 1.2 PureTech do hatch francês. Após mil quilômetros rodados entre capital, estradas diversas e cidades do interior mineiro, destrinchamos o novo capitão de vendas da marca francesa. Será que o valente compacto terá o brilho inesperado de Antoine, seu canhoto conterrâneo? Aguarde e veja.

Olhar felino e penetrante

Vamos conhecê-lo, primeiramente, por fora. Se em 1998 a marca do leão causou frisson com o desenho do 206, o lançamento do disforme 207 brasileiro na década seguinte jogou por terra o conjunto de linhas harmoniosas. O 208 resgata a beleza das linhas de seu “avô”: o uso de traços irregulares, com recortes cuidadosamente posicionados, como retas que seguidamente fazem degraus e voltam para seu eixo, enche os olhos de quem o observa. Visto de frente, a grade trapezoidal que remete a uma “boca” é delimitada por um belo aplique de aço inoxidável, material esse presente em arremates dos faróis de neblina, retrovisores e na faixa divisória entre o para-brisas e o agradabilíssimo teto panorâmico fixo de vidro, sobre o qual falaremos novamente.

teste_peugeot_208_puretech_10O olhar é penetrante: os faróis biparábolas tem máscara negra e luzes de uso diurno (DRL) em LED, contrastando com o acabamento fumê dispensado às lanternas. O conjunto óptico, bem como a grade e outros pequenos detalhes, foram fruto de pequena remodelação para o ano-modelo 2016. Em conjunto com a lateral, ornamentada pela linha de cintura irregular, e pelas rodas em alumínio de 15 polegadas, o conjunto transmite uma sensação de qualidade e refinamento. Por fim, a traseira é arrematada por lanternas em formato de meia-lua, em um desenho elegante e cheio de recursos visuais mesmo na versão Allure, que se encontra abaixo da Griffe e da GT no portfólio da fabricante oriunda de Valentigney, a nordeste da França. Nesse aspecto, não há o que discutir: é uma goleada da Peugeot frente à concorrência. Como os 5 gols contra a Islândia no mesmo Stade de France na Eurocopa deste ano. Com gol de Griezmann, entre outros, vale citar.

Entramos no 208. Logo de cara, saltam aos olhos o painel de instrumentos em posição pouco usual, bem como o design vanguardista do restante do console e a luminosidade proporcionada pelo teto envidraçado. O espaço interno é bom, mas nada revolucionário frente a seus concorrentes. A profusão de linhas inusitadas – típica da escola francesa de informalidade e inovação – agrada principalmente ao público feminino. Mas os homens de bom gosto também se sentem bem no ambiente. Os bancos são em tecido simples, mas de qualidade. Os assentos dianteiros, a propósito, dispõem de ótimo apoio lateral para que o corpo se mantenha firme nas curvas. E, de cara, um spoiler: como ele faz curvas!

Tabelinha (quase) campeã

Acomodado no posto de pilotagem o mencionado painel de instrumentos (denominado de “i-Cockpit” pela fabricante), em posição elevada frente à colocação habitual, juntamente com o volante, revestido em couro e de pequeno diâmetro, fazem uma tabelinha tão afiada quanto aquela construída por Griezmann e Giroud na Euro. A despeito de parecer diferente, o hábito de se observar os dados dispostos no tablier por cima do volante – e não por dentro, como na maioria dos carros – se faz de forma instantânea e sem nenhuma curva de aprendizado complicada, mesmo para os motoristas de menor estatura.

Junto dos habituais instrumentos como velocímetro, tacômetro, mostrador do nível de combustível e de temperatura do líquido de arrefecimento, uma tela de LCD mostra a velocidade instantânea em escala digital, dados do computador de bordo (autonomia, consumo médio e instantâneo, velocidade média, hodômetro parcial), do hodômetro integral e do funcionamento do piloto automático – presente nessa versão – são exibidos.

Falando em piloto automático, cartão amarelo para a Peugeot: com os comandos dispostos em uma haste atrás do volante, sua operação durante a noite é dificultada pela falta de retroiluminação dos controles (o que não ocorre no comando dos vidros elétricos nas quatro portas, por exemplo).  A falta de comandos para abertura, pelo motorista, do porta-malas de boa capacidade (são 285 litros) e da portinhola do tanque de combustível (55 litros), juntamente com a falta de comando elétrico para retração do forro do teto panorâmico, justifica a penalidade. A falta de controle de estabilidade (ESP), pelo porte e preço do automóvel, também consta na súmula da partida. Não se pode, entretanto, criticar o incômodo no banco traseiro para passageiros com mais de 1,75 metro de altura (a mesma de Griezmann, frise-se): é um efeito direto do rebaixo do forro retrátil do teto envidraçado.

teste_peugeot_208_puretech_8De volta ao interior, a central multimídia de 7 polegadas se posiciona em posição adequada para motorista e passageiros. Embora não disponha de mapas de navegação via GPS, permite o uso de Apple CarPlay e MirrorLink para que aplicativos como Waze e Google Maps sejam executados. Sensores de estacionamento traseiro também colocam sua informação na central de mída, que pode ser controlada a partir de comandos práticos e intuitivos nos raios do volante. O equipamento tem capacidade de armazenamento de 16 Gb de mídia. Entretanto, não possui leitor de CD ou DVD. A central somente se mostra complicada na hora de realizar o pareamento via Bluetooth com dispositivos externos. Uma porta USB e uma tomada de energia de 12 Volts, entretanto, se mostram bem localizadas no console central, abaixo do ar-condicionado digital e automático com operação em duas zonas distintas.

teste_peugeot_208_puretech_12De resto, materiais como plástico preto lacado (vulgarmente black piano), cinza texturizado e em vários tons, imitações de aço escovado e tecido fazem o ambiente a bordo ser arrebatador. Um detalhe simples, mas de boa execução, é o porta-luvas imenso que, devido à sua profundidade, possui um porta-objetos na própria tampa de abertura, para que objetos menores e de uso corriqueiro não se percam em sua profundidade. Enxertos de feltro no encaixe do cinto de segurança, plásticos bem encaixados e ajuste de regulagem do cinto de segurança contrastam com a falta de módulo de levantamento dos vidros, com função um-toque apenas para o condutor. Outra dura do juiz: o compartimento não possui iluminação dedicada, bem como o porta-malas. Ainda a respeito de acomodações, porta-objetos diversos e em boas dimensões se fazem presentes em pontos diversos do interior do 208, ideal para você que trata seu automóvel como um armário de bugigangas.

teste_peugeot_208_puretech_7A corrida de Giroud

Antes de ligarmos o 208, vale a pena uma espiada no cofre do motor – e cadê o motor!? Com dimensões diminutas para o porte do veículo, o propulsor em alumínio de 1.199 cm³ engana a muitos incautos pelo seu reduzido porte – sobra espaço, por vários lados, no compartimento. Virtudes do motor tricilíndrico, de 4 válvulas por cilindro, taxa de compressão de 12,5:1 e duplo comando de válvulas no cabeçote. Ambos os comandos de válvulas possuem variação do tempo de abertura, e são movidos por correia em banho de óleo. Não espere, entretanto, um desempenho em linha reta de tirar o fôlego. O foco do motor PureTech, segundo a fabricante francesa, é o consumo ótimo para o peso (1.073kg) e o porte do automóvel.

Em marcha-lenta, o ruído lembra o matraquear dos pequenos motores Diesel europeus. Ou, vagamente, aquele trator tricilíndrico que você guarda na fazenda do seu avô. Com pedais de suave operação, colocamos de lado os números de desempenho: a sensação não condiz com o que a ficha técnica apresenta de forma fria. A despeito de pequeno, o motor não é girador – como habitual nos motores subquadrados, com diâmetro dos cilindros menor que o curso do pistão – com a faixa vermelha no conta-giros se iniciando antes das 6.000 rpm. Entretanto, no espectro contido entre as 1.500 rpm e 5.500 rpm, o motor se mostra extremamente elástico para seu torque e potência.

Com um magnífico trabalho de NVH (noise, vibration and harshness – ruído, vibrações e aspereza, em português), não se ouve o motor subindo de giro e nem mesmo o desbalanceamento inerente aos motores de 3 cilindros se faz notar no habitáculo. Viagens a 110 km/h com retomadas a partir de velocidades mais baixas levando o motor até os 5.000 rpm. O corte de injeção se faz, efetivamente, às 6.500 rpm. A seleção francesa, com seu time jogando em casa, seguramente vibrava mais que o motor 1.2.

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Isso resulta em um desempenho adequado tanto na cidade quanto na estrada. Não é um velocista nato, como o avançado galês Bale, mas se comporta como o centroavante francês Giroud: grandalhão, tem desenvoltura além do porte físico de dublê do Frankstein. Na cidade, as saídas de semáforo ocorrem sem letargia, bem como as retomadas nas retas curtas e de pista simples nas rodovias no seio de Minas – ultrapassagens ocorrem sem desconforto de qualquer ordem. Mas o que impressiona é o consumo: em ritmo acelerado em um trecho de 500 quilômetros, o computador de bordo acusou 13 km/l de consumo, sempre com o ar condicionado ligado. No trânsito amistoso de Ipatinga, região leste mineira, a marca chama ainda mais a atenção: 13,8 km/l.

Ainda mais impressionante do que a elasticidade do PureTech é a estabilidade do compacto. Historicamente, franceses são experts em fazer hatches com muito “chão”, como diria o jargão automotivo referindo-se a um carro com grande capacidade dinâmica. Bebendo na fonte do imortal Peugeot 205 GTI, seu bisneto é auxiliado pela deliciosa posição de condução, em que se unem o melhor volante dos carros “mortais” de nosso mercado, com assistência elétrica variável de direção e com ajustes de distância e altura da coluna. Tão firme quanto o competente Lloris, guarda-redes da esquadra francesa.

Entretanto, uma falta digna de cartão vermelho: o câmbio tem engates tinhosos e imprecisos. É daqueles que nos fazem praguejar a cada engate que não entra de forma correta. Encaixar a marcha-a-ré, então, é mais dolorosa que o 7 a 1 da seleção canarinho para alguns. Ao menos o escalonamento do mesmo, longo, é condizente com a proposta de economia e possui espaçamento agradável entre as relações.

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O 208 se mantém colado ao solo e arranca um sorriso da cara do condutor. Seguramente é uma referência em seu segmento, ao lado do seu concorrente direto que é Ford Fiesta. A importância dos pneus é mínima nesse aspecto: são pneus Pirelli Cinturato P1 com 195mm de banda, que não são feitos para nenhum indicador de desempenho extremo. É entrar na curva de pé no fundo, deixar a bela calibração das suspensões (McPherson na frente, eixo de torção atrás, barra estabilizadora em ambos os eixos) agir e sair pronto para a próxima.

Na hora de parar, tudo tranquilo: discos ventilados de 266mm na dianteira e tambores na traseira tem a salvaguarda de sistema antitravamento (ABS) e de distribuição da força de frenagem (EBD). No campo da segurança, air-bags laterais para os passageiros da frente se juntam a cintos de segurança de três pontos e apoios de cabeça para todos os ocupantes e luzes de segurança em caso de frenagens de emergência. A sensação de solidez corrobora o bem-estar obtido pelos ocupantes

Preço de Pogba. Futebol de Allano?

Com preço de R$ 56.290,00  – que alcança até R$ 57.880 como a cor Branco Nacré do carro testado – o 208 1.2 Allure PureTech não possui opcionais. Seu preço é alto quando visto pelo prisma de ser um hatch premium com desempenho médio, embora agradável em todas as situações: vá para um Nissan March 1.6, por exemplo, que terá mais refinamento enquanto fará muito carro maior corar de vergonha na saída de semáforo. É pagar o preço do Paul Pogba, crescente estrela do esquete gaulês, para levar o Allano para seu time.

Entretanto, se um conjunto acertado, com alta tecnologia e com marcas interessantíssimas de consumo faz mais o seu número – o 208 pode ser a escolha certa. Cativando o motorista tanto parado quanto em movimento, pode não ser o melhor jogador de sua categoria. Mas impressiona a quem não o conhece e seu preço, por esse ponto de análise, não é dos piores. É uma questão de apostar no pequeno Peugeot, que tende a dar certo. Tal qual Antoine Griezmann, ganhador – com justiça – do prêmio de melhor jogador da Eurocopa 2016.

AVALIAÇÃO Renato Marlos
Desempenho(acelerações e retomadas) 8 8
Consumo(cidade e estrada) 10 10
Estabilidade 9 8
Freios 8 8
Posição de dirigir/ergonomia 10 9
Espaço interno 8 8
Porta-malas (espaço, acessibilidade e versatilidade) 7 7
Acabamento 8 8
Itens de segurança(de série e opcionais) 7 8
Itens de conveniência(de série e opcionais) 9 8
Conjunto mecânico(acerto de motor, câmbio, suspensão e direção) 9 9
Relação custo/benefício 7 7

FICHA TÉCNICA

MOTOR
Dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12 válvulas, com injeção indireta no coletor de admissão, bicombustível, 1.199 cm³ de cilindrada (diâmetro de 75,0mm, curso de 90,34mm), 84/90 cv (gasolina/etanol) de potência máxima a 5.750 rpm, 12,2/13 (g/e) kgfm de torque máximo a 2.750 rpm

TRANSMISSÃO
Tração dianteira, com câmbio manual de 5 velocidades à frente

ACELERAÇÃO  ATÉ 100 km/h (dado de fábrica)
14,3/12,8s (g/e)

VELOCIDADE MÁXIMA (dado de fábrica)
171/177 km/h (g/e)

DIREÇÃO
Pinhão e cremalheira, com assistência elétrica variável

FREIOS
Discos ventilados na dianteira e tambores atrás, com ABS e EBD

SUSPENSÃO
Dianteira, independente, McPherson, com barra estabilizadora; traseira por eixo de torção, com barra estabilizadora

RODAS E PNEUS
Rodas em liga de alumínio, 6,5×15 polegadas, pneus 195/60 R15

DIMENSÕES (metros)
Comprimento, 3,975; largura, 1,702; altura, 1,472; distância entre-eixos, 2,541; peso: 1.073 quilos

CAPACIDADES
Tanque de combustível: 55 litros; porta malas: 285 litros; carga útil (passageiros e bagagem): N/A.

(*) Engenheiro Mecânico formado pelo Cefet-MG

Fotos | Marlos Ney Vidal/Autos Segredos

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