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Carros antigos participam de rali de regularidade em Minas Gerais

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Primeira edição do Raid Estrada Real leva dezenas de antigomobilistas à cidade histórica de Tiradentes

raid_tiradentes_5Por Alexandre Soares

A chuva e o céu nublado confirmavam a previsão de mau tempo para a sexta e o sábado (29/04 e 30/4, respectivamente). Qualquer viagem de fim de semana torna-se menos agradável com chuva, mas quando o trajeto será percorrido a bordo de um carro antigo, a situação fica um pouco pior. Mantendo o pensamento positivo em uma melhora nas condições climáticas, tirei o Dodge Dart 1970 da garagem, já carregado com bagagens e ocupado por minhas companheiras de viagem – no caso, minha namorada e minha mãe – e rumamos até um posto de combustíveis na BR-040, no bairro Jardim Canadá, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde outros antigomobilistas, entre os quais meu irmão, com um Opala 1988, se encontrariam para seguir em comboio até Tiradentes, onde seria realizada a primeira edição do Raid Estrada Real, um evento que colocaria carros com até 25 anos de fabricação em um rali de regularidade.

raid_tiradentes_12Já no posto, pouco depois das 14h, as notícias não eram animadoras: um grupo que havia partido pela manhã havia enfrentado muita chuva durante os 190 quilômetros que separam as duas cidades. Porém, pouco depois da partida, o mau-tempo deu uma trégua, que acabou se prolongando durante quase todo o percurso: a água só voltaria a  molhar o para-brisa do “Dojão” nas proximidades de São João Del Rei, cidade vizinha a Tiradentes, também rica em patrimônio histórico. Parecia que o pensamento positivo havia dado certo. Quando chegamos ao nosso destino, passava das 18h e já era noite fechada. Mas não havíamos passado por nenhum tipo de percalço. Pelo contrário: mesmo com 46 anos de idade, o carro havia se comportado de modo exemplar, e os outros veículos que integravam o comboio também não apresentaram problema algum.

raid_tiradentes_21A largada do raid seria já no dia seguinte: estava marcada para as 11h de sábado, dia 30. Era preciso chegar com duas horas de antecedência, para adesivar o carro. Nesse meio-tempo, minha namorada, que atuou como navegadora, aproveitou para conhecer melhor sua função: ela nunca havia navegado na vida. Para tornar a situação dela um pouco mais difícil, a planilha com o trajeto seria entregue apenas um minuto antes da largada. Os carros foram saindo um de cada vez, como é de praxe em ralis, de acordo com o número de inscrição. O “Dojão” era o 52º de 72 veículos inscritos, dos quais 65 efetivamente disputaram a prova. Os automóveis eram bastante diversificados: havia modelos das décadas de 1930 a 1990, nacionais e importados. De Fiat 147 a Ford Mustang, de VW Kombi a Porsche 944; o que todos tinham em comum era o excelente estado de conservação. A maioria, inclusive, exibia a cobiçada placa preta.

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Após esperar algum tempo, havia chegado nosso momento de iniciar a prova. Apesar da grande nebulosidade no céu, não havia nem sinal de chuva. Melhor, impossível! Com a planilha em mãos, contamos os segundos até o horário da largada. O raid, enfim,  começava para nós. Os dois primeiros trechos eram voltados apenas para o deslocamento até a saída de Tiradentes, na direção à cidade mineira de Barbacena. O prazo estipulado pela organização era de 30 minutos para percorrê-los, o que, teoricamente, configurava tempo de sobra. Porém, no centro histórico da cidade, um evento de cervejas artesanais havia desviado o trânsito para uma rua pela qual a planilha não previa nossa passagem. O jeito foi passar pelo desvio, mas isso acabou causando uma confusão na rota, o que fez com que nós e vários outros competidores tomássemos um caminho errado, que roubou minutos preciosos. Após alguma tensão, conseguimos chegar ao ponto marcado apenas dois minutos antes do prazo. Era pouco, mas já bastava para não perder pontos. Dali para frente, porém, a dificuldade iria aumentar, pois começariam os primeiros trechos cronometrados.

raid_tiradentes_18Felizmente, minha navegadora havia aprendido rápido a exercer suas funções, e fizemos bons tempos nas etapas seguintes. Na verdade, ela navegou muito bem durante todo o percurso, o que nos garantiu uma prova relativamente tranquila e revelou que temos sintonia também como dupla de rali. Vale destacar que manter uma velocidade perfeitamente constante em rodovias abertas está longe de ser tão simples como parece. Ultrapassar veículos lentos nas sinuosas e estreitas estradas que cortam os municípios vizinhos a Tiradentes às vezes é tarefa difícil, e, quando se dirige um carro antigo (que está longe de ter o mesmo comportamento dinâmico de um modelo atual), tentar descontar posteriormente o tempo perdido pode ser perigoso: no caso do Dodge Dart com o qual nós participávamos do rali, a estabilidade proporcionada pela suspensão e a resposta dos freios (ambos os sistemas mantêm suas características originais e estão em perfeitas condições) não estão à altura do desempenho do ainda impetuoso motor V8. Por outro lado, quando há um trecho com menos curvas e com trânsito mais desimpedido, alguns motoristas que não participam da prova forçam a passagem, tentando nos levar para além dos limites de velocidade, tanto os legais quanto os estabelecidos pela direção da prova.

raid_tiradentes_20Mesmo com essas dificuldades, só passamos pelos pontos de cronometragem com tempos significativamente mais baixos que os especificados em duas ocasiões: a primeira no município de Dores de Campos, onde acabamos errando o caminho, e a segunda nas proximidades da cidade de Lagoa Dourada, justamente onde um trator entrou em nossa frente em um trecho com muitas curvas, o que retardou bastante nossa ultrapassagem. Mesmo assim, retornamos a Tiradentes e cruzamos a linha de chegada bem perto do horário previsto, cerca de 4 horas após a largada, com sorrisos nos rostos. Afinal, aquele era o primeiro rali do qual participávamos, e o fato de completá-lo sem enfrentar grandes percalços já era motivo de satisfação. Ao todo, percorremos cerca de 200 quilômetros durante a prova, que passou ainda por São João Del Rei, Barroso, Santa Cruz de Minas e Prados. Só soubemos o resultado à noite, durante a festa de premiação. O Dodge Dart 1970 ficou em 18º lugar. Nada mau para um carro de 46 anos de idade, comandado por uma dupla principiante!

No dia seguinte, domingo, pé na estrada de novo, de volta para a capital mineira. Partimos por volta das 11h e chegamos às 16h30: o tempo maior de percurso se deveu a duas paradas, uma para comprar os tradicionais rocamboles de Lagoa Dourada e outra para almoçar em Jeceaba, ambas cidades localizadas ao longo da rota.  Dessa vez, o tempo estava ótimo, com céu aberto e muito sol. Novamente, não enfrentamos problema algum. O saldo negativo do fim de semana ficou por conta apenas dos dois tanques de gasolina gastos durante os deslocamentos e a prova. Mas tudo bem: o divertimento a bordo do “Dojão”, tanto disputando o raid quanto simplesmente ouvindo o ronco borbulhante do motor V8 nas viagens de ida e volta até Tiradentes, ao longo das deliciosas estradinhas da região (todas elas cheias de belas paisagens) parece ter justificado muito bem os valores desembolsados na bomba.

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Iniciativa

O Raid Estrada Real foi organizado pelo Clube de Veículos Antigos de Minas Gerais (CVA-MG), com a supervisão da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA). A ideia de realizar a prova partiu do presidente do CVA-MG, Luis Augusto Malta: “Nós percebemos que os encontros de carros antigos realizados no Brasil são, via de regra, estáticos. Então, pensamos nesse modelo de prova, que coloca os carros em movimento e desperta o espírito esportivo dos participantes”, conta. No ano passado, ele organizou um raid menor, entre amigos, formado por cerca de 40 carros antigos, que largaram de Belo Horizonte e passaram pelas cidades mineiras de Ouro Preto e Ouro Branco.

Após os bons resultados colhidos no ano passado, veio a ideia de realizar uma prova maior, sob a chancela do CVA-MG, e surgiu então o Raid Estrada Real. Malta comemora a adesão dos antigomobilistas: alguns deles vieram de estados vizinhos a Minas Gerais, como Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, para disputar o rali. “A resposta dos participantes mostrou que o evento foi muito além das expectativas. Além do mais, os veículos foram de alto nível, dignos das melhores exposições pelo país”, comemora o idealizador, que, de agora em diante, planeja organizar uma edição do raid por ano, em diferentes municípios mineiros.

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Prova de regularidade

O propósito de um rali de regularidade como o Raid Estrada Real é o de percorrer o trajeto determinado no tempo e na velocidade estipulados pela planilha. Cruzar a linha de chegada antes ou depois do prazo resulta em perda de pontos. Assim, o objetivo não é ser rápido, e sim constante. “As velocidades que os competidores têm que manter são menores que os limites previstos por lei nas rodovias. Assim, evitamos riscos de acidentes e desgastes excessivos nos carros”, diz Eduardo Cançado, 62, organizador técnico do evento. Segundo ele, por ser voltado para veículos antigos, o evento tem várias particularidades. “É uma prova que inclui só trajetos pavimentados, para evitar danos aos veículos”, explica. Outra característica é o grau de dificuldade mais baixo que o das  competições profissionais, que permite que pilotos e navegadores com pouca ou nenhuma experiência possam participar.

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Resultados

O vencedor do raid acabou sendo o próprio presidente do CVA-MG, Luis Augusto Malta, com Eduardo Santana como navegador, a bordo de um MGB 1979. Guilherme Machado e Matheus Machado, em um Dodge Charger R/T 1979, chegaram na segunda colocação, e Bernardo Seoane e Sylvio Martins, em um Puma GTE 1977, faturaram o terceiro lugar. O Opala Comodoro 1980 de Maurício Neves e Filipe Cançado chegou na quarta posição, enquanto o Opala Especial 1974 de Gustavo Meyer e Cristiane Kika assegurou o quinto degrau no pódio. A organização ainda distribuiu prêmios para o veículo mais antigo a participar do rali, um Ford A Phaeton 1931 de Milton Lapertosa, para a dupla com maior espírito esportivo, agraciado a Rômulo Filgueiras e Andressa Garcia, que disputaram a prova em uma moto BMW R60 1964 (a navegadora teve de apoiar a planilha nas costas do piloto e sinalizar com o braço para orientar o caminho a ser tomado) e para o veículo mais espetacular do evento, o chamado Best of Show, concedido ao Dodge Challenger 1970 de Ricardo Pentagna Guimarães.

Fotos | Alexandre Soares

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